Guia de vida - Decida o que você quer pra sua vida - Sucesso

Todos nós, em algum momento ou outro, sentimos como se não estivéssemos vivendo a vida que deveríamos viver. Que não estamos vivendo conforme os nossos sonhos. Que a vida está passando rápido demais. Infelizmente, esses sentimentos fazem com que fiquemos um tanto perdidos, confusos, e até mesmo travados na nossa realidade atual.

Psicólogos e gurus de autoajuda já tentaram todos os tipos de conselhos para resolver esse tipo de indecisão, e recentemente, eu li sobre uma técnica que achei muito interessante, proveniente do mundo tecnológico.

Isso é, engenheiros e designers muitas vezes enfrentam desafios semelhantes aos nossos quando se trata de projetar novos produtos. Como você constrói algo novo quando não faz ideia do que deve construir?

O processo é descrito em mais detalhes no livro “O Design da sua Vida”, e possui apenas três passos, os quais serão amplamente discutidos nesse artigo.

No primeiro passo, discutiremos a importância de ampliarmos nossas opções, para que assim possamos tomar decisões mais criativas e conscientes. No segundo passo, examinaremos os riscos de termos muitas opções, e como devemos restringi-las, se necessário.

Como terceiro e último passo, examinaremos por que somos tão ruins em predizer qual a melhor opção para o nosso futuro, e quais métodos podem ser utilizados para que tomemos melhores decisões.

Se preferir, você pode clicar nos links abaixo para ir direto a uma seção particular do artigo que te interessa, ou pode simplesmente continuar a leitura para ver o artigo completo.

Colete e Crie Opções

Construindo Protótipos

“Devemos ter apenas um botão no mouse ou dois botões?”

Essa era a perguntar que Dave Evans, Steve Jobs e outros engenheiros da Apple estavam tentando responder, quando perceberam que na realidade haviam dois problemas nessa questão.

Isso é, o primeiro desafio dos engenheiros era descobrir como os usuários interagiam com o computador, e ver qual das opções realmente funcionaria. Os engenheiros já tinham uma ideia, mas o que eles realmente precisavam descobrir era qual a real preferência dos usuários.

Para isso, eles criaram alguns protótipos. Agora, é importante que você perceba que um protótipo não é apenas um modelo, mas sim uma ferramenta psicológica.

Um protótipo revela as suposições que os engenheiros estão fazendo a respeito do produto, e permite que eles espiem o futuro, envolvendo outras pessoas nas suas ideias.

Através desse processo, eles puderam ver uma preferência clara da maior parte dos usuários por apenas um botão, o que permitiu que entrassem na segunda parte do desafio.

Agora, eles precisavam descobrir como realmente construir um mouse funcional com apenas um botão. Esse seria um problema de engenharia complicado, mas pelo menos agora os engenheiros já sabiam qual era o objetivo final.

Essa abordagem, onde primeiramente são construídos diferentes protótipos para só então decidir qual será o produto final, se tornou extremamente comum no mundo dos negócios, principalmente nas companhias tecnológicas do Vale do Silício, onde ganhou o nome de “Design Thinking”.

Alguns anos atrás, Dave Evans percebeu que o Design Thinking poderia ser útil também fora do mundo tecnológico. Na Universidade de Stanford, ele via muitos estudantes se questionando sobre o que deveriam fazer da sua vida, e viu aí a oportunidade de criar um novo curso, destinado a esses estudantes.

Projete a sua Vida

Como professor em Stanford, Evans frequentemente via seus estudantes se perguntando sobre qual o melhor caminho para suas vidas, aquele que seria mais certo para o sucesso.

Na mente do professor, existia um grande equívoco nesse tipo de pergunta. Ao perguntar qual o melhor caminho, os estudantes provavelmente estavam assumindo que existia um caminho único, exclusivo, otimizado, que eles já deveriam saber qual é, e que provavelmente já estavam atrasados para tomá-lo.

Contudo, da mesma forma que na construção do mouse, não existe apenas um caminho para o sucesso, e embora a construção do mouse com apenas um botão fosse a melhor opção, os engenheiros não tinham como ter certeza disso antes de testá-lo.

Dessa forma, Dave Evans se juntou com Bill Burnett (também professor na Universidade de Stanford), e juntos criaram o curso “Design Your Life” (em português, “Projete a Sua Vida”), no qual começaram a ensinar os estudantes a utilizar a abordagem do Design Thinking para resolver os problemas das suas próprias vidas.

Hoje, esse é o curso mais concorrido na Universidade de Stanford, e sua eficiência já foi vista em duas teses de doutorado, publicadas em 2012 e 2013.

Felizmente, as estratégias utilizadas no curso foram recentemente publicadas no livro “O Design da Sua Vida: Como Criar uma Vida Boa e Feliz”, o qual é a base de todo esse artigo, permitindo que eu e você possamos utilizá-las juntos para melhorar nossas próprias vidas.

Para Projetar a sua Vida, Comece Projetando as Suas Vidas

Como uma das primeiras ideias defendidas no livro para otimizar nossas escolhas, os autores defendem que precisamos aumentar ou criar novas opções de futuro.

Ou seja, o primeiro passo para que você comece a planejar sua vida daqui para frente, é começar planejando as suas vidas daqui para frente.

Não, eu não bati a cabeça, e esse foi um erro de digitação. Eu também não estou falando de reencarnação, ou de qualquer prática com implicação religiosa. A ideia aqui é que você simplesmente pense sobre sua vida no plural, como se existissem diferentes versões da sua vida para os próximos 5 anos.

Para ser mais exato, os autores pedem para que você imagine três versões completamente diferentes dos próximos 5 anos da sua vida. Três diferentes vidas que você poderia tranquilamente escolher viver nos próximos anos.

Dessa forma, não perca tempo e comece já o exercício. Defina em algumas linhas diferentes possibilidades para o seu futuro.

E mesmo que as três versões dos próximos anos não apareçam imediatamente na sua cabeça, isso não significa que você não tenha essas opções. Todos nós temos ao menos três alternativas em qualquer momento das nossas vidas. Basta relaxar e dar um tempo para sua cabeça, e ela naturalmente encontrará a solução.

No livro, os autores ainda fornecem uma formula genérica para encontrar suas três vidas. São elas:

Vida 1 – Aquilo que você já faz.

De maneira geral, a primeira ideia que vai aparecer na sua cabeça leva em conta aquilo que você já está fazendo. Assim, pense sobre como serão os próximos 5 anos da sua vida caso continue no seu trabalho atual.

Como serão os próximos 5 anos caso continue com os mesmos hábitos que tem hoje, tratando as pessoas da mesma forma?

Vida 2 – Aquilo que você faria se o seu emprego deixasse de existir

Alguns tipos de trabalho simplesmente deixam de existir. É possível que isso aconteça com o seu. Dessa forma, imagine que seu emprego atual simplesmente não existe mais, não sendo mais uma opção para você. O que você faria?

Você não pode ficar sem fazer nada. Você precisa ganhar a vida de alguma forma. Então, mesmo que essa alternativa não venha imediatamente na sua mente, force sua imaginação até que algo apareça.

Vida 3 – Aquilo que você faria se dinheiro ou status não fossem um problema

Em terceiro lugar, se existisse um emprego que te permitisse uma vida descente, e na qual as outras pessoas não iriam rir de você, ou te menosprezar por fazê-lo, o que você faria?

Obviamente, é muito difícil prever se você realmente conseguirá viver dessa forma, e mais difícil ainda prever se as pessoas vão rir de você (embora elas raramente façam isso). Ainda assim, imaginar essa como uma alternativa pode ser crucial para explorar mais a fundo a sua vida.

Exemplo da Vida Real

No livro, Evans e Burnett dão alguns exemplos desse exercício sendo aplicado, os quais eu achei bem ilustrativos. Em particular, eu gostei do exemplo relacionado a um estudante chamado Dave, o qual era formado em administração.

Ele estava convencido de que não possuía três opções diferentes, mas as respostas foram aparecendo conforme sua imaginação foi sendo alimentada.

Primeiramente, Dave precisou esclarecer sua primeira opção, aquela em que ele já estava trabalhando. Essa foi fácil! No caso, ele gostaria de se tornar um consultor de negócios. Essa era sua primeira opção, ou como chamamos, sua “vida 1”.

Em seguida, Dave foi questionado sobre o que faria se todos os donos de negócios no mundo se reunissem e decidissem que os bilhões gastos em consultoria não estavam trazendo retorno, sendo que, portanto, não comprariam mais esse tipo serviço.

Depois de pensar por um bom tempo, Dave teve a ideia de trabalhar para uma empresa de mídia digital, desenvolvendo estratégias de marketing. Ótimo! Essa seria então sua segunda opção, ou sua “vida 2”.

Em seguida, Dave foi questionado sobre o que aconteceria se não precisasse se preocupar com dinheiro. Caso seu objetivo fosse viver modestamente, trabalhando com algo que ele genuinamente gosta, então o que ele faria?

“Eu realmente gostaria de trabalhar com distribuição de vinhos. Isso sempre me pareceu um pouco bobo, mas isso francamente me fascina e eu adoraria tentar”.

Aí estavam as três opções de Dave. Obviamente, ele ainda precisaria analisar com cuidado cada uma das opções, antes de realmente decidir. Contudo, o primeiro passo já estava concluído. Suas três opções já estavam definidas!

Por que Três Versões dos Próximos 5 Anos?

Caso tenha ficado curioso para saber os motivos que levaram os autores a defender a ideia de começar com três opções, assim como os motivos pelos quais você deve pensar em período de cinco anos, as explicações se encontram logo abaixo.

Por que criar três versões completamente diferentes?

Em 2010, uma equipe de pesquisa liderada pelo professor Dan Schwartz avaliou dois grupos diferentes.

O primeiro grupo começava com três ideias completamente diferentes, que eram trabalhadas em paralelo. Então, o grupo escolhia uma delas, e produzia sequencialmente mais duas ideias caminhando assim para sua finalização.

O segundo grupo, em contrapartida, iniciava com apenas uma única ideia, e então permanecia iterando essa mesma linha de raciocínio por 4 vezes.

Ambos os grupos geravam, portanto, 5 rodadas de ideias. Contudo, os grupos chegaram a resultados completamente diferentes.

O grupo que começou formulando três ideias diferentes chegou a resultados muito melhores e mais inovadores. O segundo grupo, que começou com apenas uma ideia, tendeu a permanecer refinando a mesma ideia múltiplas vezes, nunca realmente inovando.

A conclusão foi que caso a sua mente comece com múltiplas ideias em paralelo, ela não está prematuramente comprometida a um único caminho, e permanece mais aberta e capaz de conceber melhores inovações. Dessa forma, reduzem também as suas chances de você ficar paralisado no meio do caminho.

Por que criar versões de cinco anos?

A escolha do período de 5 anos leva em conta, primeiramente, que para grande parte das pessoas, 2 anos é um período muito curto (faz com que fiquem nervosas por não poderem pensar mais à frente), e 7 anos é um período muito longo (sabemos que muitas coisas acontecerão até lá, que mudarão completamente nossos planos).

Em segundo lugar, se você parar para analisar a maneira com que as pessoas contam as histórias das suas próprias vidas, ou da vida de seus filhos, perceberá que elas geralmente fragmentam a história em pedaços de 2 a 4 anos.

Temos, portanto, os primeiros anos de vida, os anos de pré-escola, os anos de pré-adolescente, os anos de adolescência, os anos de ensino médio, os anos na faculdade, e assim por diante.

Sendo assim, cinco anos cobrem um fragmento de quatro anos da sua vida, e ainda te dá um ano de sobra para fazer uma transição.

Reduza (Se Necessário) Suas Opções

O Experimento da Geleia

Em 2000, a pesquisadora Sheena Iyengar estava interessada em entender como restrições nas nossas escolhas podem alterar nosso comportamento de compra. Para isso, a pesquisadora fez uma parceria com Gustave Draeger, dono de um dos maiores supermercados em São Francisco.

Para começar, a pesquisadora buscou averiguar como um número diferente de opções de geleia influenciava a porcentagem de vendas.

Dessa forma, ela e seus assistentes se fizeram passar por representantes da Wilkin & Sons, a qual era fornecedora de geleias da Queens of England. A escolha dessa marca levou em consideração a sua ampla variedade e qualidade. De maneira similar, foram escolhidas geleias porque são mais palatáveis, ao contrário de mostarda ou vinagre, sendo mais fáceis de experimentar.

Um estande foi coloco logo na entrada do supermercado, onde facilmente poderia ser visto pelos compradores. A cada hora, o número de geleias disponíveis para prova era alterado.

Isso é, na primeira hora foram disponibilizados 24 sabores diferentes de geleia (morango, framboesa, uva e marmelada de laranja foram retirados, para que assim as pessoas não se restringissem ao que lhes é familiar).

Na hora seguinte, foram retiradas do estande a maior parte das geleias, ficando apenas seis sabores: kiwi, pêssego, cereja preta, coalhada de limão, groselha e uma marmelada de três frutas.

Os compradores foram aconselhados a provar quantas geleias quisessem, e acabavam provando duas geleias em média, independentemente de quantas geleias estavam apresentadas no estande. No final, os compradores ainda ganhavam um cupom de desconto na compra de qualquer uma das geleias.

Menos é Mais?

Como já era esperado, as horas em que o estande possuía mais geleias eram também aquelas em que mais pessoas o visitavam.

Isso é, enquanto que cerca de 60% dos clientes que entravam na loja paravam para experimentar as geleias quando haviam 24 opções diferentes, apenas 40% dos clientes paravam para experimentar as geleias quando apenas 6 opções estavam disponíveis.

Contudo, você acha que esse tráfego superior realmente se traduziu em um maior número de vendas? A resposta é não!

Interessantemente, quando os compradores possuíam mais opções, a tendência era que se mantivessem confusos quanto ao melhor sabor, o que fazia com que não utilizassem seu cupom de desconto.

Em contraste, aqueles que podiam experimentar apenas 6 tipos diferentes de geleia eram muito mais diretos, pegando rapidamente o sabor que mais haviam gostado.

Dessa forma, quando todos os dados foram compilados, viu-se que cerca de 30% das pessoas que haviam visitado o estande com 6 geleias realmente finalizaram a compra, enquanto que apenas 3% dos compradores que visitaram o estande com 24 geleias fizeram o mesmo.

Isso levou os pesquisadores a concluir que embora as pessoas demonstrem mais interesse de compra quando são apresentadas muitas opções, isso não se traduz necessariamente em vendas. Quando o alvo do negócio é aumentar as vendas, restringir o número de opções disponíveis pode ser uma excelente escolha!

O Paradoxo da Escolha

No mesmo ano, Sheena Iyengar ainda realizou um experimento dentro do seu laboratório, onde testou o apelo visual de seis ou trinta chocolates gourmet em diferentes grupos.

Como no estudo anterior, os voluntários poderiam experimentar quantas opções quisessem, mas aqui, no final do experimento, eles precisavam escolher entre receber o pagamento pela participação na forma de dinheiro ou através de uma caixa do chocolate que mais haviam gostado.

Nesse ensaio, os voluntários que foram expostos a trinta chocolates deram classificações mais baixas ao chocolate, e estavam menos propensos a pegar uma caixa de chocolates ao invés de dinheiro após o experimento.

Nos anos seguintes, surgiram ainda diversos outros estudos mostrando um efeito similar, onde a restrição de opções favorecia que os voluntários tomassem decisões mais rápidas e melhores.

Por exemplo, um experimento onde um grupo de estudantes recebia 6 opções de tópicos para escrever uma dissertação, e outro grupo recebia 30 opções, mostrou que o grupo com menos opções escreveu dissertações melhores.

Da mesma forma, mais pessoas ingressaram em um plano de aposentadoria quando possuem menos opções, e o mesmo parece ser válido para planos de saúde.

Esses dados surpreenderam muita gente, pois são completamente contra intuitivos. Intuitivamente, pensamos que quanto maior é o número de opções, maiores também são as chances de encontrarmos algo que realmente gostamos.

Contudo, falhamos em perceber que quanto maior é o número de opções, maior também é a quantidade de informações que precisamos processar, sendo maior assim a chance de ficarmos confusos e até sobrecarregados na tentativa de tomar uma decisão.

Justamente por isso, em 2004 o pesquisador Barry Schwartz publicou o livro “O Paradoxo da Escolha: Por que Mais é Menos?”, onde defende que contrariamente ao que muitas pessoas acreditam, restringir nossas opções pode ser uma excelente estratégia para tomar melhores decisões.

Restringindo suas Opções de Vida

Algumas pessoas simplesmente acham que não possuem opções. Outras, em contrapartida, possuem opções demais.

É possível que ao fazer o primeiro exercício deste artigo, você não tenha se contentado com apenas 3 versões diferentes da sua vida, e tenha definido até mais opções do que isso.

Se esse foi o seu caso, é possível que agora você esteja lutando com todas as possibilidades, e se sentindo incapaz de tomar uma decisão por medo de acabar se arrependendo. Você olha para a lista de todas as ideias, e para sugestões que outras pessoas já deram para você, e se sente totalmente sobrecarregado por precisar escolher.

E da mesma forma que no experimento da geleia, de alguma forma, ainda parece algo bom ter muitas opções. Da mesma forma que as pessoas são mais atraídas pelo estande com mais geleias, é possível que você se sinta naturalmente atraído pelo o caminho com mais alternativas.

Contudo, aqui falhamos novamente em perceber que nosso cérebro não está programado para lidar tantas opções. Da mesma maneira em que a maior parte das pessoas deixa de comprar a geleia quando possuem 24 opções diferentes, a maior parte das pessoas permanece paralisada quando possuem um número grande de possibilidades para sua vida.

Para a maior parte das pessoas, a sua capacidade de escolha começa a piorar assim que extrapolam a média 3 a 5 opções.

Portanto, o conselho é para que justamente restrinja suas opções. Risque-as da sua lista. Entenda que ao ter muitas opções, você acaba ficando totalmente sem opções, pois acaba paralisado. E se você riscar algo errado, não se preocupe, você saberá disso depois, e poderá voltar atrás, inserindo essa possibilidade novamente na sua lista.

Escolha com Discernimento

O Experimento da Fotografia

Em 2002, Dan Gilbert realizou um experimento interessante no que se refere a nossa capacidade de tomar decisões que iremos ou não nos arrepender.

O pesquisador recrutou um grupo de 64 estudantes, os quais estavam matriculados para um curso de fotografia no campus. É válido lembrar que nessa época o uso das câmeras digitais ainda não havia sido popularizado, sendo que cada estudante poderia, portanto, tirar um número limitado de fotografias.

Ao longo do curso, o professor ainda passava cerca de uma ou duas horas explicando aos estudantes como revelar suas duas fotos prediletas. Após essas fotos secarem, o experimento de Gilbert realmente começava.

Para um grupo de estudantes, era falado que deveriam escolher apenas uma das duas fotografias que haviam revelado. Contudo, caso mudassem de ideia, a outra fotografia permaneceria arquivada na universidade, e a qualquer momento o estudante poderia trocar entre ambas.

Para o outro grupo de estudantes, também era falado que deveriam escolher apenas uma das duas fotos, mas aqui a escolha seria permanente. A foto que não escolhessem seria enviada para outro campus, e a troca posterior não seria permitida.

Os alunos fizeram suas escolhas e levaram uma das fotografias para casa. Cerca de uma semana depois, os alunos precisaram responder a um questionário, que entre outras coisas, perguntava quanto os estudantes gostaram da fotografia que levaram para casa.

Surpreendentemente, como resultado os alunos do grupo que podia realizar a troca gostaram menos da foto que haviam escolhido do que o grupo que não possuía escolha de troca.

Curiosamente, quando um novo grupo de alunos foi convidado a prever o quanto eles gostariam de suas fotografias se tivessem ou não a oportunidade de mudar de ideia, esses alunos predisseram que isso não influenciaria a sua satisfação com a fotografia.

A Incapacidade de Prever seus Sentimentos

O experimento da fotografia correspondeu a uma das primeiras evidências científicas do quanto nossa capacidade de escolha afeta nosso bem-estar, assim como do quanto somos incapazes de predizer os fatores que nos deixarão felizes.

Na realidade, mesmo depois de saber os resultados do experimento, se eu lhe perguntasse em qual dos dois grupos você preferiria estar, tenho quase certeza de que escolheria o grupo que possui a possibilidade de trocar de foto.

Como a maior parte das pessoas, você provavelmente acredita que quanto mais possibilidade de escolha você tem, melhor para o seu bem-estar. Contudo, conforme discutimos no tópico anterior, esse nem sempre é o caso.

Desde então, muitos outros experimentos científicos já foram conduzidos, também mostrando nossa incapacidade de prever os fatores que realmente afetam nosso bem-estar.

Contudo, eu penso que não preciso trazer esses outros estudos aqui, pois você provavelmente possui exemplos disso acontecendo na sua própria vida. Exemplos de situações em que você criou uma expectativa, e essa expectativa não correspondeu à realidade.

Por exemplo, você acha que a consulta no dentista será terrível, e acaba não sendo tão ruim assim. Você acha que comprar um carro novo será ótimo, e acaba não fazendo muita diferença ao longo dos dias. Você acha que perder o seu emprego é a pior coisa que pode te acontecer, e acaba sendo a melhor.

Seja para melhor ou para pior, todos nós já passamos por isso. Dessa forma, é possível que você se pergunte “por que”? Por que somos tão ruins em antecipar os fatores ou situações que afetarão nosso bem-estar?

Por que Não Conseguimos Prever nossos Sentimentos?

Ao meu ver, o principal motivo pelo qual não somos muito bons em imaginar o futuro, é que não conseguimos realmente nos imaginar como pessoas diferentes no futuro.

Para ilustrar isso, pegue por exemplo outra pesquisa realizada por Dan Gilbert. Nesse estudo, o pesquisador primeiramente perguntou para jovens com 18 anos o quanto eles achavam que mudariam nos próximos 10 anos. Isso é, o quão diferentes estariam quando completassem 28 anos.

Em seguida, o pesquisador perguntou para jovens de 28 anos o quanto eles realmente mudaram nos últimos 10 anos.

Em um mundo real, esses números seriam os mesmos. Contudo, como você pode imaginar, jovens de 18 anos achavam que não mudariam muito, e jovens de 28 anos reportaram grandes transformações nos últimos 10 anos das suas vidas.

Interessantemente, o mesmo efeito ocorre entre pessoas de 50 e 60 anos. Se você perguntar para uma pessoa de 50 anos o quanto ela acha que mudará nos próximos 10 anos, provavelmente ela imaginará que não muito.

Contudo, quando perguntar para alguém de 60 anos sobre seus últimos 10 anos de vida, perceberá que existiram grande mudanças na sua forma de pensar e ver o mundo.

O que é realmente fascinante a respeito desse erro mental é que não importa quantas vezes o cometemos. De alguma forma, nós não aprendemos com ele, e ficamos, portanto, com a mesma confiança de que agora, quando pensarmos sobre nosso futuro, estaremos certos.

Dessa forma, podemos dizer que esse erro funciona de forma similar a ilusões de ótica. Mesmo que você saiba que duas linhas tenham exatamente o mesmo comprimento, muitas vezes não conseguimos deixar de vê-las como tendo tamanhos diferentes.

Assim, por sucessivas vezes você tentará prever o seu futuro, e por sucessivas vezes você estará enganado.

Como Fazer Melhores Predições?

Com esses dados em mãos, é possível que você esteja se perguntando se existe algum tipo de treinamento, ou estratégia para melhorar nossa capacidade de imaginar o futuro.

Deixe-me dar um resumo rápido dos últimos 15 anos de pesquisa nesse ramo: nada parece funcionar, pelo menos não no longo prazo!

Em uma coletânea com dezenas de estratégias diferentes, nenhuma parece fazer alguma diferença na nossa capacidade de imaginarmos o futuro. Contudo, existe sim uma forma mais eficiente de tomar decisões. Ela não leva em conta a sua capacidade de prever o futuro, e você provavelmente já a utiliza para aqueles assuntos que você não consegue usar sua imaginação.

Por exemplo, se eu te pedisse para predizer o quanto você vai gostar da comida de um novo restaurante, o que você me diria? Provavelmente, você não faz ideia! Como você não consegue imaginar como será a comida de um novo restaurante, você não sabe dizer se vai gostar ou não.

Dessa forma, o que você faz quando quer saber se um restaurante é bom? Ou você pergunta para outras pessoas que já foram lá, ou você pesquisa na internet por revisões de outras pessoas que já passaram pelo restaurante.

Interessantemente, essa mesma estratégia pode ser utilizada para praticamente todas as decisões que você quer tomar na sua vida. Quer se mudar para o Havaí? Quer largar o seu emprego? Quer se inscrever em um curso?

Praticamente qualquer decisão que você precisa tomar, seja ela pequena ou grande, já foi tomada por muitas pessoas, e essas pessoas tomaram essas decisões em ambas as direções.

Existem pessoas que já estão fazendo as coisas que você está apenas imaginando, e ninguém melhor do que essas pessoas para predizer como você se sentirá ao tomar essa mesma decisão.

Como Combater a Indecisão?

Como seres humanos, é natural pensarmos que somos totalmente únicos. É natural pensarmos que a experiência de outras pessoas pode refletir um pouco de como nos sentiremos, mas não reflete totalmente nossa forma de pensar.

Em outras palavras, é natural pensarmos que não existe ninguém melhor do que nós mesmos para predizer como estaremos nos sentindo no futuro.

Contudo, isso é uma completa ilusão! Nós não somos totalmente diferentes das outras pessoas, e a opinião daquelas que já tomaram a mesma decisão que estamos ruminando, diz muito a respeito de como nos sentiremos no futuro.

Dessa forma, o conselho é justamente esse. Ao invés de ficar contemplando suas três opções de vida, procure por pessoas que já tomaram essa decisão antes, e que já estão vivendo a sua realidade.

Quer abrir uma start-up? Procure por pessoas que já empreenderam, e pergunte sobre o seu dia a dia, e sobre os pros e contras de abrir uma empresa.

Quer começar um canal no YouTube sobre jogos de tabuleiro? Mande uma mensagem ou e-mail para pessoas que já possuem um canal, e pergunte sobre os primeiros anos do canal, e sobre como elas estão se sentindo hoje.

Seja uma indecisão pequena ou grande, se ela está passando pela sua cabeça por algum tempo, procure por pessoas que já decidiram, e pergunte a elas como estão se sentindo.

Se todas as opções deram bons resultados, então ótimo! Você ficará bem independentemente do que escolher. Contudo, se você ouvir relatos de pessoas que se arrependeram, preste atenção, pois essa pode ser uma opção arriscada para você.

Obviamente, leve em consideração que existem pessoas que estão sempre insatisfeitas. Independentemente do quão bom é um filme, restaurante ou produto vendido online, sempre existe ao menos uma pessoa que não ficou satisfeita.

Utilizando sua Inteligência Emocional

Antes de finalizar esse tópico, eu acho importante te fornecer mais algumas informações, as quais também podem ser úteis na sua tomada de decisão.

Isso é, embora eu acredite que a melhor forma de você prever como vai se sentir ao tomar uma decisão seja justamente perguntando para outras pessoas que escolheram esse caminho, eu não acredito que esse seja o único fator que você deve levar em consideração quando estiver indeciso.

Para fazer uma boa escolha, eu acredito que você também precisa levar em consideração o processo pelo qual seu cérebro toma uma decisão, ou ao menos te dá dicas sobre as suas melhores opções.

Esse processo é comumente chamados de “Inteligência Emocional”.

O que é inteligência emocional?

Embora o termo “Inteligência Emocional” tenha sido popularizado depois de 1995, com a publicação do livro “Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente”, e praticamente qualquer pessoa já ouviu falar dele, ainda existem poucas pessoas que entendem o que ele significa, e menos pessoas ainda aprenderam seus benefícios.

O que acontece é que a parte do seu cérebro responsável por te ajudar a tomar melhores decisões é chamada de gânglios basais. Essa é uma parte ancestral no seu cérebro, a qual não possui ligação com seus centros verbais. Dessa forma, ela não se comunica através de palavras, mas através de sentimentos e via conexões com seu intestino.

Ou seja, grande parte do seu conhecimento sobre decisões passadas é transmitido a você emocionalmente (através de sentimentos), ou “intestinalmente” (através de diferentes sensações corpóreas).

Dessa forma, a teoria da inteligência emocional defende que para tomar melhores decisões, é interessante levar em consideração não apenas a sua razão, mas também o que o que seu corpo está te “falando”.

Como utilizar sua inteligência emocional?

O processo de aprender a utilizar sua inteligência emocional não é necessariamente simples, pois envolve educar o seu cérebro a prestar atenção nas pistas que seu próprio corpo te fornece durante o processo de tomar uma decisão.

E o motivo pelo qual eu digo que o processo não é tão simples, é que no mundo de hoje, temos tantas responsabilidades que são raros os momentos em que estamos realmente presentes para os nossos sentimentos.

Na maior parte do dia, somos fisgados por pensamentos sobre o passado e sobre o futuro, não sobrando muito tempo para pensar sobre o tempo presente.

Justamente por isso, práticas como a meditação têm ganho muito espaço na ciência da alta performance, já que treinam o cérebro a permanecer presente para o que está acontecendo no agora, servindo também como um excelente treinamento para sua inteligência emocional.

Por séculos, outras práticas também vêm sendo utilizadas com o mesmo intuito. Práticas como a escrita em diários ou fazer orações, acompanhadas de atividades físicas como o yoga ou o Tai Chi, podem te ajudar a integrar corpo e mente, facilitando suas decisões.

Obviamente, eu não sou expert em nenhuma dessas práticas, sendo que não posso te aconselhar sobre quais são as melhores para serem inseridas no seu dia a dia.

Contudo, eu realmente encorajo que você pesquise sobre cada uma delas, e busque incorporá-las na rotina. Essas práticas podem definitivamente te ajudar a tomar melhores decisões no futuro!

Considerações Finais

Muitas pessoas se sentem travadas. Travadas no trabalho, travadas na cidade que estão vivendo, travadas na vida.

Quando isso acontece, elas acabam se perguntando “o que eu devo fazer?”, “onde eu devo viver?”, ou “qual a minha vida ideal?”

Infelizmente, essas perguntas mais comuns acabam sendo improdutivas, nos mantendo ainda mais travados. Elas colocam uma pressão insuportável em cada um de nós. A pressão de saber como as coisas irão acontecer.

Por isso, na próxima vez em que você se encontrar em uma situação como essa, pense na sua vida da mesma forma que um designer pensaria sobre um novo produto em uma empresa tecnológica. Você não tem certeza do que você deve construir, então você começa fazendo um primeiro protótipo, então o segundo, e então o terceiro.

Você presta atenção em qual dos protótipos você mais gosta de construir, e sai para o mundo, pedindo o feedback de outras pessoas. Em outras palavras, você investiga qual caminho as pessoas parecem preferir, o impacto que isso possui no seu bem-estar, e executa seu plano com a confiança de que está tomando a melhor decisão para aquele momento.

Então, você volta para o seu quadro de planejamento, e faz isso de novo e de novo, indefinidamente.

Assim, no futuro, quando alguém te perguntar como você sabia o que queria ser ou fazer da sua vida, você pode falar: “honestamente, eu não sabia”.

DEIXE UM COMENTÁRIO